Não é fácil ser técnico de futebol num país com milhões de técnicos. Agora imagine que esse técnico já não seja exatamente uma pessoa bem-humorada. E, agravando ainda mais o quadro, que esse técnico resolva contrariar a principal rede de televisão do país. O que resulta daí é a situação vivida hoje por Dunga à frente da Seleção Brasileira.
Não foi à-toa que a Rede Globo recebeu a denominação de Vênus Platinada. Apadrinhada pelos governos militares, a Globo desenvolveu durante seus 45 anos de história essa personalidade autoritária de origem. Rica e mimada, passou a dar as cartas a ponto de conseguir eleger um presidente da República, Fernando Collor. E se chegou a tanto, por que não no futebol?
Desde que comprou os direitos de exclusividade na transmissão do futebol brasileiro, a Globo passou a decidir qual o melhor dia e horário para que as partidas se iniciem. As regras do Campeonato Brasileiro não são feitas apenas pela CBF, mas discutidas dentro das salas da Globo. E a emissora sempre teve passe livre em qualquer concentração, em qualquer estádio, com qualquer jogador, enquanto as outras emissoras ficavam a ver navios.
Na Copa, então, era na Globo que se sabia de todas as notícias mais secretas. E só a Globo tinha passe livre na concentração brasileira. Isso tudo acabou na chamada Era Dunga – apelido, aliás, bastante pejorativo dado pela mídia. Com Dunga, não tem benefício nem privilégio para nenhuma emissora. Querem informações? Participem das coletivas. Saiu daí, são todos iguais. E isso, realmente, a Globo não pode agüentar.
A gota d´água, contada e recontada em todas as redes sociais da Internet, foi a tentativa frustrada de Fátima Bernardes entrar na concentração e sair entrevistando alguns jogadores, alegando que foi um acordo entre a emissora e Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Não adiantou bater pé, reclamar, ameaçar. A Globo não entrou e, em represália, deu início a uma campanha contra Dunga.
Pelo menos na internet, Dunga levou a melhor na queda de braço e teve o apoio massivo dos internautas. É provável que, passada a Copa, a coisa mude de figura. Principalmente se o Brasil não se tornar hexacampeão. Mas Dunga já terá conseguido um feito considerável: enfrentou a Vênus Platinada e mostrou que liberdade de imprensa deve valer para todas e não apenas para uma. Senão, não se trata de liberdade, mas de ditadura disfarçada.
terça-feira, 29 de junho de 2010
terça-feira, 8 de junho de 2010
Serra e a indústria de dossiês
Desde que Collor e sua quadrilha tomaram de assalto a presidência da República com o apoio dos principais órgãos de comunicação do país, a indústria de dossiês contra candidatos tem florescido, especialmente nas três últimas eleições presidenciais. Foi assim em 2002, em 2006 e agora, justamente quando todas as pesquisas indicam a subida espetacular de Dilma Roussef, a revista Veja “descobre” um dossiê contra a filha de Serra, o candidato tucano.
Do conteúdo do dossiê pouco se fala, mas o “ético” Serra tratou logo de jogar a responsabilidade pelo suposto dossiê nas costas de Dilma. E o PSDB e seu aliado de todas as horas, o DEM (ex-PFL) anunciaram uma ação judicial contra a coordenação da campanha do PT.
O dossiê “descoberto” por Veja não veio à tona com a matéria da revista. Na verdade ele começou a ser gerado em março deste ano, quando o Instituto Millenium, que tem entre seus conselheiros o presidente do Grupo Abril (revista Veja) e o vice-presidente das Organizações Globo, promoveu um evento para discutir a liberdade de imprensa. No encontro dos poderosos chefões da mídia estes sequer se deram ao trabalho de disfarçar suas reais intenções: organizar o noticiário sobre as eleições presidenciais, de maneira a fortalecer a candidatura de José Serra.
O suposto dossiê foi desmascarado pela revista Carta Capital na edição que começou a circular no dia 5/6. Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Junior, sobre os bastidores da privatização no governo Fernando Henrique. O livro está sendo produzido há cerca de dois anos e entre os investigados pelo jornalista estão três parentes de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado.
O livro virou um “dossiê contra Serra” depois que o também jornalista Luis Lanzetta, responsável por contratar jornalistas para a campanha de Dilma, convidou Amaury para integrar a equipe. Em entrevista à Carta Capital, Amaury diz que não aceitou o convite por estar ocupado com a finalização do livro. Mas bastou esse encontro dos dois para dar ao Partido da Imprensa Golpista (PIG), como apelidou o deputado Fernando Ferro, o pretexto necessário para colocar em funcionamento sua ofensiva antiDilma e pró-Serra.
A campanha eleitoral ainda não começou oficialmente, mas pelo aperitivo mostrado até aqui pelos chefões da mídia, dá pra ter uma idéia do que vem por aí.
Do conteúdo do dossiê pouco se fala, mas o “ético” Serra tratou logo de jogar a responsabilidade pelo suposto dossiê nas costas de Dilma. E o PSDB e seu aliado de todas as horas, o DEM (ex-PFL) anunciaram uma ação judicial contra a coordenação da campanha do PT.
O dossiê “descoberto” por Veja não veio à tona com a matéria da revista. Na verdade ele começou a ser gerado em março deste ano, quando o Instituto Millenium, que tem entre seus conselheiros o presidente do Grupo Abril (revista Veja) e o vice-presidente das Organizações Globo, promoveu um evento para discutir a liberdade de imprensa. No encontro dos poderosos chefões da mídia estes sequer se deram ao trabalho de disfarçar suas reais intenções: organizar o noticiário sobre as eleições presidenciais, de maneira a fortalecer a candidatura de José Serra.
O suposto dossiê foi desmascarado pela revista Carta Capital na edição que começou a circular no dia 5/6. Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Junior, sobre os bastidores da privatização no governo Fernando Henrique. O livro está sendo produzido há cerca de dois anos e entre os investigados pelo jornalista estão três parentes de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado.
O livro virou um “dossiê contra Serra” depois que o também jornalista Luis Lanzetta, responsável por contratar jornalistas para a campanha de Dilma, convidou Amaury para integrar a equipe. Em entrevista à Carta Capital, Amaury diz que não aceitou o convite por estar ocupado com a finalização do livro. Mas bastou esse encontro dos dois para dar ao Partido da Imprensa Golpista (PIG), como apelidou o deputado Fernando Ferro, o pretexto necessário para colocar em funcionamento sua ofensiva antiDilma e pró-Serra.
A campanha eleitoral ainda não começou oficialmente, mas pelo aperitivo mostrado até aqui pelos chefões da mídia, dá pra ter uma idéia do que vem por aí.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Governo de Israel ataca a paz
O ataque de tropas israelenses a um comboio de navios que se dirigia à Faixa de Gaza levando ajuda humanitária só merece uma qualificação: terrorismo de Estado. Se estivesse em território israelense, o ataque já seria condenável. Mas o comboio estava em águas internacionais, portanto, não podia sequer ser acusado de invasão. Os navios, nos quais estavam cerca de 700 ativistas de 38 países, voluntários solidários à causa do povo palestino, levavam remédios e gêneros de primeira necessidade à população que vive em situação de calamidade. São 1 milhão e meio de palestinos confinados numa área menor que a Zona Sul. Falta espaço, luz, combustível, água, comida, remédios. Um terço das crianças com menos de 5 anos tem anemia. Uma população cercada pelos muros e pelas tropas israelenses. Um campo de concentração mantido por quem deveria ser o primeiro a dar exemplo contrário.Imagine-se que a situação fosse oposta e o governo iraniano, por exemplo, tivesse cometido a mesma ação em relação a um comboio de navios com ajuda humanitária a Israel. Seria imediatamente alvo de um bloqueio econômico internacional liderado pelos Estados Unidos que, no mínimo, enviaria tropas para o local.Mas ao receber uma declaração de condenação ao ato pelo Conselho de Segurança da ONU, o que fez o governo de Israel? Disse que a decisão havia sido baseada “unicamente em determinadas imagens televisivas”. Ora, o mundo inteiro até hoje se horroriza com o Holocausto graças às imagens registradas dos campos de concentração. E as imagens enviadas pelos ativistas que estavam na Flotilha da Liberdade são de estarrecer. Não houve confronto entre iguais, houve o ataque de forças armadas contra civis desarmados que resultou na morte de nove pessoas, cujas identidades não haviam sido reveladas pelo governo de Israel até a tarde de ontem.O governo brasileiro, que tem se empenhado firmemente pela paz no Oriente – e que foi criticado pela comprometida mídia brasileira por causa das negociações com o Irã -, pediu o fim do embargo de Israel à Gaza. É o mínimo que o mundo pode esperar diante da barbárie cometida.
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