terça-feira, 29 de junho de 2010

Dunga X Globo

Não é fácil ser técnico de futebol num país com milhões de técnicos. Agora imagine que esse técnico já não seja exatamente uma pessoa bem-humorada. E, agravando ainda mais o quadro, que esse técnico resolva contrariar a principal rede de televisão do país. O que resulta daí é a situação vivida hoje por Dunga à frente da Seleção Brasileira.

Não foi à-toa que a Rede Globo recebeu a denominação de Vênus Platinada. Apadrinhada pelos governos militares, a Globo desenvolveu durante seus 45 anos de história essa personalidade autoritária de origem. Rica e mimada, passou a dar as cartas a ponto de conseguir eleger um presidente da República, Fernando Collor. E se chegou a tanto, por que não no futebol?

Desde que comprou os direitos de exclusividade na transmissão do futebol brasileiro, a Globo passou a decidir qual o melhor dia e horário para que as partidas se iniciem. As regras do Campeonato Brasileiro não são feitas apenas pela CBF, mas discutidas dentro das salas da Globo. E a emissora sempre teve passe livre em qualquer concentração, em qualquer estádio, com qualquer jogador, enquanto as outras emissoras ficavam a ver navios.

Na Copa, então, era na Globo que se sabia de todas as notícias mais secretas. E só a Globo tinha passe livre na concentração brasileira. Isso tudo acabou na chamada Era Dunga – apelido, aliás, bastante pejorativo dado pela mídia. Com Dunga, não tem benefício nem privilégio para nenhuma emissora. Querem informações? Participem das coletivas. Saiu daí, são todos iguais. E isso, realmente, a Globo não pode agüentar.

A gota d´água, contada e recontada em todas as redes sociais da Internet, foi a tentativa frustrada de Fátima Bernardes entrar na concentração e sair entrevistando alguns jogadores, alegando que foi um acordo entre a emissora e Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Não adiantou bater pé, reclamar, ameaçar. A Globo não entrou e, em represália, deu início a uma campanha contra Dunga.

Pelo menos na internet, Dunga levou a melhor na queda de braço e teve o apoio massivo dos internautas. É provável que, passada a Copa, a coisa mude de figura. Principalmente se o Brasil não se tornar hexacampeão. Mas Dunga já terá conseguido um feito considerável: enfrentou a Vênus Platinada e mostrou que liberdade de imprensa deve valer para todas e não apenas para uma. Senão, não se trata de liberdade, mas de ditadura disfarçada.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Serra e a indústria de dossiês

Desde que Collor e sua quadrilha tomaram de assalto a presidência da República com o apoio dos principais órgãos de comunicação do país, a indústria de dossiês contra candidatos tem florescido, especialmente nas três últimas eleições presidenciais. Foi assim em 2002, em 2006 e agora, justamente quando todas as pesquisas indicam a subida espetacular de Dilma Roussef, a revista Veja “descobre” um dossiê contra a filha de Serra, o candidato tucano.
Do conteúdo do dossiê pouco se fala, mas o “ético” Serra tratou logo de jogar a responsabilidade pelo suposto dossiê nas costas de Dilma. E o PSDB e seu aliado de todas as horas, o DEM (ex-PFL) anunciaram uma ação judicial contra a coordenação da campanha do PT.
O dossiê “descoberto” por Veja não veio à tona com a matéria da revista. Na verdade ele começou a ser gerado em março deste ano, quando o Instituto Millenium, que tem entre seus conselheiros o presidente do Grupo Abril (revista Veja) e o vice-presidente das Organizações Globo, promoveu um evento para discutir a liberdade de imprensa. No encontro dos poderosos chefões da mídia estes sequer se deram ao trabalho de disfarçar suas reais intenções: organizar o noticiário sobre as eleições presidenciais, de maneira a fortalecer a candidatura de José Serra.
O suposto dossiê foi desmascarado pela revista Carta Capital na edição que começou a circular no dia 5/6. Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Junior, sobre os bastidores da privatização no governo Fernando Henrique. O livro está sendo produzido há cerca de dois anos e entre os investigados pelo jornalista estão três parentes de Serra: a filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado.
O livro virou um “dossiê contra Serra” depois que o também jornalista Luis Lanzetta, responsável por contratar jornalistas para a campanha de Dilma, convidou Amaury para integrar a equipe. Em entrevista à Carta Capital, Amaury diz que não aceitou o convite por estar ocupado com a finalização do livro. Mas bastou esse encontro dos dois para dar ao Partido da Imprensa Golpista (PIG), como apelidou o deputado Fernando Ferro, o pretexto necessário para colocar em funcionamento sua ofensiva antiDilma e pró-Serra.
A campanha eleitoral ainda não começou oficialmente, mas pelo aperitivo mostrado até aqui pelos chefões da mídia, dá pra ter uma idéia do que vem por aí.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Governo de Israel ataca a paz

O ataque de tropas israelenses a um comboio de navios que se dirigia à Faixa de Gaza levando ajuda humanitária só merece uma qualificação: terrorismo de Estado. Se estivesse em território israelense, o ataque já seria condenável. Mas o comboio estava em águas internacionais, portanto, não podia sequer ser acusado de invasão. Os navios, nos quais estavam cerca de 700 ativistas de 38 países, voluntários solidários à causa do povo palestino, levavam remédios e gêneros de primeira necessidade à população que vive em situação de calamidade. São 1 milhão e meio de palestinos confinados numa área menor que a Zona Sul. Falta espaço, luz, combustível, água, comida, remédios. Um terço das crianças com menos de 5 anos tem anemia. Uma população cercada pelos muros e pelas tropas israelenses. Um campo de concentração mantido por quem deveria ser o primeiro a dar exemplo contrário.Imagine-se que a situação fosse oposta e o governo iraniano, por exemplo, tivesse cometido a mesma ação em relação a um comboio de navios com ajuda humanitária a Israel. Seria imediatamente alvo de um bloqueio econômico internacional liderado pelos Estados Unidos que, no mínimo, enviaria tropas para o local.Mas ao receber uma declaração de condenação ao ato pelo Conselho de Segurança da ONU, o que fez o governo de Israel? Disse que a decisão havia sido baseada “unicamente em determinadas imagens televisivas”. Ora, o mundo inteiro até hoje se horroriza com o Holocausto graças às imagens registradas dos campos de concentração. E as imagens enviadas pelos ativistas que estavam na Flotilha da Liberdade são de estarrecer. Não houve confronto entre iguais, houve o ataque de forças armadas contra civis desarmados que resultou na morte de nove pessoas, cujas identidades não haviam sido reveladas pelo governo de Israel até a tarde de ontem.O governo brasileiro, que tem se empenhado firmemente pela paz no Oriente – e que foi criticado pela comprometida mídia brasileira por causa das negociações com o Irã -, pediu o fim do embargo de Israel à Gaza. É o mínimo que o mundo pode esperar diante da barbárie cometida.